A prisão do ex-deputado estadual TH Joias — nome real Alessandro José da Silva — na madrugada de 3 de setembro de 2025, durante a Operação Zargun Rio de Janeiro, não foi só mais um arresto. Foi o colapso de uma máquina que usava a imunidade parlamentar como escudo para mover armas, drogas e dinheiro sujo entre favelas, aeroportos e gabinetes. O ex-jovem joalheiro que fabricava peças de ouro com diamantes para jogadores de futebol e artistas agora é acusado de ser o elo entre a política e as facções criminosas mais poderosas do estado. E o mais assustador? Ele não estava sozinho.
Uma rede que se escondia atrás do mandato
A Polícia Federal e o Ministério Público do Rio de Janeiro descobriram que, desde janeiro de 2023 — quando TH Joias assumiu seu mandato na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro —, ele e seus aliados criaram uma estrutura clandestina que usava o poder legislativo para facilitar crimes. Entre os 15 presos, estavam o delegado federal Gustavo Steel, flagrado em pleno serviço no Aeroporto Internacional do Rio de Janeiro (Galeão) passando informações sigilosas, e o assessor parlamentar Luiz Eduardo Cunha Gonçalves, o Dudu, acusado de vender dispositivos anti-drones para facções. Isso não é acaso. É sistema.Entre os principais conectores, o nome que mais chama atenção é Gabriel Dias de Oliveira, o "Índio do Lixão", morador da favela de Duque de Caxias e ponte entre TH Joias e o Comando Vermelho. Segundo a PF, ele comprava rifles na fronteira com o Paraguai e os entregava diretamente aos líderes da facção. O mesmo padrão se repetia com o Terceiro Comando Puro. A rede tinha até infraestrutura de telecomunicações própria — criptografada, móvel e difícil de rastrear — tudo financiado com dinheiro do tráfico e lavado por empresas falsas.
Os bens que falaram mais alto que as palavras
Na busca na residência de TH Joias, em um condomínio de luxo na Barra da Tijuca, os agentes encontraram 12 carros importados, 37 barras de ouro (cada uma pesando 1,245 kg), 87 peças de joias com diamantes e uma série de celulares com mensagens criptografadas. O valor estimado dos bens apreendidos supera R$ 18 milhões — quase o dobro do que ele declarou como renda nos últimos três anos. O que mais surpreendeu os investigadores? Nenhuma dessas peças de ouro foi registrada como produto de seu antigo negócio. Tudo era "presente de amigos". Um detalhe: ele nunca declarou ter vendido joias a criminosos. Mas os registros de transações bancárias não mentem.Entre fevereiro de 2024 e agosto de 2025, foram documentados 17 vazamentos de informações sigilosas da PF para facções criminosas. Gustavo Steel foi o principal responsável. Em um dos casos, ele avisou o Comando Vermelho sobre uma operação de apreensão de armas em São Gonçalo — e os traficantes deslocaram os estoques duas horas antes. O resultado? Nada foi apreendido. A PF calcula que, com esses vazamentos, pelo menos 42 operações foram sabotadas. Isso não é negligência. É traição.
Reações e o que vem a seguir
Logo após a prisão, TH Joias foi afastado da Alerj por decisão unânime da Mesa Diretora. O MDB, partido ao qual ele pertencia e que historicamente tem forte influência no Rio, declarou que "não tolera qualquer ligação com o crime organizado". Mas a pergunta que ninguém quer fazer é: quantos outros têm o mesmo perfil? Ele foi eleito com 28.743 votos em 2022 — um número expressivo para um candidato sem tradição política. Como conseguiu? A PF suspeita que parte desse apoio veio de redes de proteção e favorecimento em comunidades controladas por facções.Seu advogado, Dr. Marcelo Fernandes Costa, afirmou que seu cliente "mantém a inocência" e que vai se defender "com todas as ferramentas legais disponíveis". Mas a justiça já está em movimento. O caso foi atribuído à Juíza Ana Paula Mendes Rodrigues, da 12ª Vara Federal do Rio, e a primeira audiência está marcada para 15 de dezembro de 2025. Se condenado em todos os 11 crimes — incluindo organização criminosa, tráfico interestadual, corrupção ativa e lavagem de dinheiro —, TH Joias pode pegar entre 32 e 40 anos de prisão, além de multa de R$ 5,7 milhões.
Por que isso importa para todos nós
Este caso não é só sobre um ex-deputado. É sobre como o crime organizado se infiltrou nas instituições que deveriam combatê-lo. Quando um legislador usa sua imunidade para proteger traficantes, quando um delegado vende segredos da PF, quando o ouro que você vê em um anel de artista vem de um esquema de tráfico — isso afeta a segurança de todos. O Rio já viveu episódios como esse: a Operação Lava Jato, a Operação Satiagraha, a Operação Calicute. Mas desta vez, o inimigo não está só nas favelas. Está no gabinete.A Agência Nacional de Telecomunicações e o Banco Central do Brasil ajudaram na investigação, o que mostra o nível de sofisticação da rede. Eles rastrearam transações financeiras suspeitas, identificaram frequências de comunicação ilegais e cruzaram dados com o histórico de TH Joias. O que antes parecia coincidência — o aumento repentino de vendas de joias em 2023, a mudança brusca de estilo de vida, a proximidade com figuras ligadas a facções — agora é prova. E isso pode ser o começo de uma limpeza maior.
Frequently Asked Questions
Quem é TH Joias e como ele entrou na política?
TH Joias, nome real Alessandro José da Silva, era um joalheiro de sucesso que fabricava peças de ouro com diamantes para artistas e jogadores de futebol. Entrou na política em 2022 como candidato do MDB, conquistando 28.743 votos no Rio de Janeiro. Sua popularidade cresceu por meio de ações sociais em comunidades e apoio de líderes locais, mas investigações apontam que parte desse apoio foi comprado com recursos ilícitos.
Quais crimes ele é acusado de cometer?
Ele é acusado de 11 crimes, incluindo organização criminosa, tráfico interestadual de armas e drogas, corrupção ativa, lavagem de dinheiro, contrabando, exploração clandestina de telecomunicações e obstrução de investigação. A pena máxima pode chegar a 40 anos de prisão, além de multa de R$ 5,7 milhões. A PF já documentou 17 vazamentos de informações sigilosas ligados a ele.
Como a rede criminoso se conectava com o poder público?
A rede usava a imunidade parlamentar de TH Joias para proteger atividades ilegais, como o transporte de armas do Paraguai e a venda de dispositivos anti-drones. Delegados como Gustavo Steel vazavam informações sobre operações da PF. Assistentes como Dudu atuavam como intermediários logísticos. Tudo era coordenado por uma infraestrutura de comunicação criptografada, financiada com dinheiro do tráfico.
O que foi apreendido na casa dele?
Foram apreendidos 12 carros de luxo, 37 barras de ouro (totalizando cerca de 46 kg), 87 peças de joias com diamantes e vários dispositivos eletrônicos com mensagens criptografadas. O valor estimado dos bens supera R$ 18 milhões. Muitos desses itens não constavam em sua declaração de renda, o que reforça a suspeita de lavagem de dinheiro.
O que acontece a partir de dezembro de 2025?
A audiência de 15 de dezembro será a primeira oportunidade para o juiz analisar as provas e decidir se o caso prosseguirá para julgamento. Se houver indícios suficientes, TH Joias será encaminhado para o júri popular ou julgamento por júri federal. A defesa já anunciou que contestará todas as provas, mas a PF tem gravações, transações bancárias e testemunhas-chave, incluindo os próprios acusados que viraram delatores.
Essa operação pode levar a outras prisões?
Sim. A PF já está analisando ligações de TH Joias com outros políticos e empresários que receberam valores suspeitos entre 2023 e 2025. Além disso, os dados de telecomunicações apreendidos podem revelar novos integrantes da rede. A operação Zargun é apenas a ponta do iceberg — e a Justiça já prepara a próxima fase, com possíveis mandados de busca em outros estados.
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