
Quando XP Inc. divulgou um estudo sobre a remuneração dos administradores no setor bancário, as próprias instituições analisadas colocaram o pé na porta.
O documento, produzido pela equipe de análise da XP Investimentos, foi lançado em São Paulo no início de abril de 2025, coincidindo com a temporada de divulgação de resultados do segundo trimestre de 2025São Paulo. A coincidência não passou despercebida.
O ponto de discórdia? Uma taxa de crescimento médio anual de 28,6 % nos salários de diretores, segundo o relatório. Essa cifra foi questionada pelos próprios bancos citados, que alegaram discrepâncias entre os números publicados e os dados oficiais contidos em seus formulários de referência.
Contexto do estudo e metodologia
A pesquisa da XP tinha como objetivo mapear como as políticas de compensação variam entre as maiores instituições financeiras brasileiras. Foram analisados o Bradesco, a Nubank (Nu), o Itaú Unibanco e o Banco do Brasil. Cada dado foi extraído dos formulários de referência que as empresas são obrigadas a enviar à CVM anualmente.
Os analistas da XP dividiram a remuneração em quatro categorias – fixa, variável de curto prazo, variável de longo prazo e benefícios – e compararam o total pago a conselheiros e executivos. O estudo identificou cinco conclusões principais, entre elas que não há desalinhamentos relevantes entre acionistas e executivos nas empresas avaliadas.
- O Bradesco detém a maior remuneração agregada, reflexo de seu amplo quadro de administradores.
- A Nubank se destaca como a maior pagadora de valores individuais.
- O Itaú Unibanco apresenta o mix mais robusto de remuneração variável.
- O Banco do Brasil fica atrás, possivelmente por conta da Lei das Estatais.
- Não há indícios de conflitos significativos entre acionistas e a alta administração.
Reação das instituições e contestação dos números
Logo após a divulgação, o Bradesco e a Nubank emitiram notas afirmando que a taxa de crescimento anual de 28,6 % não refletia os ajustes pontuais realizados nos últimos meses.
Em comunicado ao portal Acionista.com.br, a XP rebateu: “Todos os números presentes no relatório estão disponíveis nos formulários de referência das próprias empresas. Não há margem para erro”. O diretor de pesquisas da XP, Carlos Silva, acrescentou ainda que a metodologia adotada segue rigorosamente as normas da CVM.
O Itaú Unibanco preferiu responder de forma mais evasiva, indicando que “as variações de remuneração são fruto de decisões estratégicas que podem mudar de um exercício para outro”. O Banco do Brasil, por sua vez, citou a “necessidade de observar a Lei das Estatais ao analisar remunerações” como justificativa para eventuais diferenças.

Impacto no mercado e percepções dos analistas
Para os investidores que acompanham o setor, o embate gerou um leve aumento na volatilidade das ações desses bancos nas semanas seguintes ao anúncio. Segundo a corretora BPMoney, os papéis do Bradesco e do Itaú recuaram quase 1,2 % no dia em que a contestação foi tornada pública.
Especialistas em governança corporativa apontam que a situação reforça a importância da transparência nos relatórios de remuneração. “Quando o detalhe das recompensas chega ao público, a pressão por alinhamento entre acionistas e executivos aumenta”, afirma a professora Ana Paula Mendes, da Fundação Getúlio Vargas.
Próximos passos e possíveis desdobramentos
A XP prometeu abrir um canal de diálogo direto com as instituições e disponibilizar, em anexo ao próximo relatório trimestral, a planilha com os cálculos utilizados. A expectativa é que o assunto se encerre até o final do segundo semestre, quando os formulários de referência de 2025 deverão ser publicados oficialmente.
Se as empresas mantiverem a contestação, o próximo passo pode ser a solicitação de auditoria independente, algo que ainda não foi descartado. Até lá, investidores e analistas terão que se basear nos números já apresentados e nas declarações públicas de ambas as partes.

Contexto histórico da remuneração de administradores no Brasil
Nos últimos dez anos, a média de crescimento salarial dos diretores de grandes bancos tem girado em torno de 15 % ao ano, conforme dados da B3. O salto para 28,6 % registrado no relatório da XP representa, portanto, um outlier que chama atenção. A Lei das Estatais, implementada em 2016, impôs limites mais rígidos ao pagamento de executivos em bancos controlados pelo Estado, o que explica, em parte, a performance mais tímida do Banco do Brasil.
Outros episódios semelhantes já foram registrados. Em 2019, a corretora XP publicou um estudo sobre remunerações de fintechs que foi contestado pela própria Stone. Na ocasião, a disputa terminou com a revisão de alguns números e o estabelecimento de um comitê conjunto de validação de dados.
Perguntas Frequentes
Por que o relatório da XP gerou tanta controvérsia?
O estudo apontou um crescimento médio anual de 28,6 % nos salários de diretores, número bem acima da média histórica do setor. As empresas questionaram a metodologia e pediram revisão, temendo distorções que poderiam afetar a percepção de investidores.
Quais bancos foram analisados no relatório?
O levantamento incluiu o Bradesco, a Nubank (Nu), o Itaú Unibanco e o Banco do Brasil, além de referência ao Banco Inter&Co, que teve parte de seus dados citados por ter migrado para a Nasdaq.
Como a XP respondeu às críticas?
A corretora afirmou que todos os números vêm dos formulários de referência das próprias empresas e que a metodologia segue as normas da CVM. Também anunciou a abertura de um canal de diálogo e a publicação de planilhas detalhadas no próximo relatório.
Qual o impacto desse debate nos investidores?
A incerteza elevou a volatilidade das ações dos bancos citados, com quedas de até 1,2 % nas primeiras sessões de negociação. Analistas recomendam cautela e monitoramento dos relatórios de remuneração futuros.
O que os especialistas dizem sobre a justiça das remunerações?
A professora Ana Paula Mendes, da FGV, ressalta que a justiça salarial depende da percepção de valor que os acionistas atribuem à alta administração. Transparência e alinhamento de incentivos são cruciais para evitar controvérsias como a atual.
7 Comentários
Ao analisar o relatório da XP sobre remunerações bancárias, somos impelidos a refletir sobre a própria natureza da compensação corporativa; o que realmente mede o valor de um diretor além do número bruto que aparece nos formulários? A métrica de crescimento anual de 28,6% parece, à primeira vista, uma expressão de meritocracia, porém, ao destrinchar os componentes fixos e variáveis, percebe‑se que grande parte pode ser atribuída a bônus pontuais que não são recorrentes. Se considerarmos a volatilidade dos lucros trimestrais, tal taxa pode ser mais um reflexo de estratégias de curto prazo que buscam inflar resultados de um exercício, ao invés de promover sustentabilidade a longo prazo. A hipótese de “desalinhamento” entre acionistas e executivos, que o estudo enfatiza, entra em conspiração com a própria lógica de governança: se o conselho não possui mecanismos de verificação robustos, a confiança do investidor se dissipa.
Além disso, a própria metodologia, baseada em formulários de referência, tem limitações técnicas que podem gerar discrepâncias, como diferenças de contabilização de stock options ou ajustes retroativos. Quando instituições como Bradesco e Nubank contestam os números, não estamos perante uma simples disputa de egos, mas de interpretação de dados regulatórios que afetam o preço das ações. A volatilidade de 1,2% nas ações demonstra que o mercado ainda sente a incerteza gerada por divergências de relato.
Em termos de teoria econômica, o preço de um ativo incorpora expectativas futuras; assim, a percepção de que os administradores podem estar sendo supercompensados gera um prêmio de risco maior. Por outro lado, a transparência na divulgação, ainda que contestada, cria um ambiente onde o discurso público pode levar a auditorias independentes, o que, em última instância, contribui para a eficiência do mercado.
Vale ainda mencionar que a Lei das Estatais impõe limites específicos que podem distorcer comparações entre bancos privados e controlados pelo Estado, como o Banco do Brasil; isso significa que indicadores anuais podem não ser homogêneos. A história nos mostra episódios semelhantes, como o caso Stone em 2019, onde a revisão dos números foi necessária para restaurar a credibilidade.
Portanto, ao invés de simplesmente aceitar a taxa de crescimento como algo absoluto, devemos contextualizar dentro de um panorama regulatório, competitivo e estratégico, reconhecendo que os números são, em última análise, narrativas construídas por quem os produz. Essa consciência crítica permite que investidores e reguladores ajam de forma mais informada e menos suscetível a manipulações superficiais.
olha só como a galera da xp curtiu puxar um baita número pra causa, 28,6% é quase um salto de canguru! Mas os bancos logo deram aquele "não, não é bem assim" e começaram a dança da contestação. tem que lembrar que num relatório assim, a gente sempre tem que olhar o detailzinho, não só o headline. as metodologias são um prato cheio pra quem quer brilhar, mas se você puxa os dados direto dos formulários, tem que estar pronto pra os alvos de canhão. no fim das contas, o importante é que o papo ficou aberto e o pessoal vai ter que rachar a planilha pra todo mundo entender o que rolou de verdade.
Esse relatório é uma piada barata e mostra total falta de transparência!
Procedendo com análise formal, cumpre‑se observar que a divergência apresentada não se restringe a mero descontentamento institucional, mas evidencia lacunas metodológicas imprescindíveis à verificação de consistência dos dados. Ao invocar os princípios da transparência regulatória, a XP deveria submeter seus cálculos a auditoria externa independente, o que reforçaria a validade de suas conclusões perante a Comissão de Valores Mobiliários. Ademais, a contestação dos bancos, embora legítima, carece de detalhamento que permita a correlação ponto a ponto entre os números divulgados e os apresentados nas demonstrações oficiais. Dessa forma, recomenda‑se a adoção de um protocolo de reconciliação de dados que inclua notas explicativas robustas e a disponibilização de planilhas anexo ao relatório subsequente. Sem tais medidas, persistirá a percepção de assimetria informativa que pode impactar negativamente a avaliação de risco pelos investidores.
Ah, então agora a gente tem que aplaudir o questionamento, né? Porque obviamente os bancos nunca erram!!!! Cada número fora do lugar é motivo pra bandeira de protesto!!!!
poxa, acho que tá todo mundo levando a sério demais, né? um número não muda o mundo, mas a gente faz drama demais pra tudo isso
Observando a situação com um olhar elitista, percebo que a verdadeira questão reside na superficialidade das análises mediocres que se espalham como vírus nas redes sociais 😈. Se a XP quer realmente ser autoridade, deveria apresentar um modelo de cálculo tão impecável que não deixasse margem para críticas de instituições tão… convencionais. A resposta dos bancos soa como um eco de mediocridade que tenta proteger seus próprios interesses, sem ousar admitir falhas. Em resumo, a falta de rigor metodológico demonstra a incapacidade de alguns players de elevar o debate a um patamar de excelência.