O ex-deputado estadual Thiego Raimundo dos Santos Silva, conhecido como TH Joias, e mais 17 pessoas foram oficialmente indiciados pela Polícia Federal do Rio de Janeiro em 12 de novembro de 2025, em um caso que expõe uma rede profunda entre política, crime organizado e lavagem de fortunas. A operação, batizada de Operação ZargunBarra da Tijuca, desmantelou uma estrutura criminosa que usava o mandato parlamentar para proteger tráfico de armas, drogas e lavagem de dinheiro, tudo sob o comando de integrantes do Comando Vermelho. O que começou como uma operação de combate ao tráfico virou um escândalo de corrupção institucional — e as câmeras de segurança da casa de TH Joias registraram, no dia seguinte à prisão, uma movimentação suspeita que parece ter sido um esforço desesperado para apagar rastros.
A prisão e a casa que virou cenário de fuga
TH Joias foi preso às 6h da manhã de 3 de setembro de 2025, em um condomínio de luxo na Barra da Tijuca, zona sudoeste do Rio de Janeiro. Na mesma manhã, a Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj) o destituiu do cargo. Mas o que aconteceu no dia seguinte foi ainda mais chocante: câmeras de vigilância mostraram 14 pessoas entrando e saindo da residência, com veículos estacionados em fila dupla por mais de duas horas. Entre os objetos retirados, um cofre metálico de 1,20 metro de altura e 0,80 metro de largura — pesando cerca de 200 kg — foi carregado por quatro homens em um caminhão de mudanças alugado. "Foi um intento inequívoco de ocultar elementos probatórios", afirmou o relatório da PF. "Não se trata de simples esconderijo. É tentativa de dilapidação de patrimônio criminoso e obstrução da justiça."Da joalheria ao poder: o caminho de TH Joias
Antes de ser deputado, TH Joias era um joalheiro de sucesso. Fabricava peças de ouro e diamantes para jogadores de futebol, artistas e empresários do Rio. Seu nome era sinônimo de luxo — e sua loja na Zona Sul era frequentada por figuras públicas. Mas, segundo a investigação, ele usou essa rede de contatos para criar uma fachada legítima. A PF descobriu que ele financiava a compra de armas no Paraguai por meio de empresas fantasmas, com transações disfarçadas como vendas de joias. O próprio TH teria entregue, pessoalmente, fuzis AK-47 em caixas de joias para um dos seus principais intermediários, Gabriel Dias de Oliveira, conhecido como Índio do Lixão, morador da favela de Duque de Caxias.Os 17 indiciados: a rede que sustentava o império
Além de TH Joias, os 17 indiciados incluem figuras-chave da estrutura criminosa. Luiz Eduardo Cunha Gonçalves, o Dudu, era seu assessor parlamentar e, segundo a PF, usava o cargo para obter informações sobre operações policiais e alertar membros do CV. Outros envolvidos incluem um funcionário da Receita Federal que falsificava documentos de importação, um técnico de telecomunicações que instalou antenas clandestinas em prédios da Alerj, e dois motoristas que transportavam dinheiro em espécie entre o Rio e São Paulo.
O MDB corta laços — e o silêncio dos colegas
O Movimento Democrático Brasileiro (MDB) agiu rápido: em 3 de setembro, já anunciou a expulsão de TH Joias. Em nota, o partido afirmou que ele "não seguia a orientação partidária em votações" e que "não fará mais parte dos quadros". Mas o silêncio de outros deputados foi mais revelador. Enquanto a PF divulgava os detalhes da operação, nenhum colega de Alerj se manifestou publicamente — nem para condenar, nem para defender. "Isso não é só um caso de corrupção. É um caso de omisso", disse um ex-assessor da Alerj, sob anonimato. "Todos sabiam que ele tinha dinheiro demais para ser só joalheiro. Mas ninguém perguntou."O que acontece agora? O papel do desembargador
O processo foi encaminhado ao desembargador Macário Ramos Júdice Neto, da 1ª Seção Especializada do Tribunal Regional Federal da 2ª Região (TRF2). Ele tem 30 dias úteis para analisar os indiciamentos e decidir se o Ministério Público Federal pode apresentar denúncia formal. Se aprovada, TH Joias e os demais podem ser levados a julgamento por sete crimes: integração a organização criminosa armada, tráfico interestadual de drogas, contrabando de armas, lavagem de capitais, evasão de divisas, violação de sigilo profissional e embaraço à investigação.
Um caso que vai além do Rio
Este não é o primeiro caso de deputado ligado ao CV — mas é um dos mais detalhados. Em 2021, o ex-deputado estadual do Pará, Jeferson Nascimento, foi preso por financiar a compra de armas para o CV. Mas, ao contrário de TH Joias, ele não tinha fachada empresarial. Aqui, o crime foi escondido sob o brilho de diamantes e o prestígio de um mandato. O caso serve de alerta: quando o poder político se mistura com o tráfico, a impunidade vira sistema. E as câmeras, por mais que tentem apagar, nunca mentem.As consequências para a política no Rio
A operação Zargun já resultou em cinco prisões temporárias e três mandados de busca em outros estados. Mas o impacto mais profundo é político. A Alerj, já criticada por baixa transparência, enfrenta pressão da sociedade civil para criar uma comissão de ética independente. O Ministério Público do Rio já pediu a revisão de todos os contratos públicos assinados por TH Joias durante seu mandato — e até agora, 12 contratos de R$ 8,7 milhões foram suspensos.Frequently Asked Questions
Quais foram os principais crimes atribuídos a TH Joias?
TH Joias foi indiciado por sete crimes: integração a organização criminosa armada, tráfico interestadual de drogas, contrabando de armas, lavagem de capitais, evasão de divisas, violação de sigilo profissional e embaraço à investigação. A PF comprovou que ele usava o mandato para obter informações privilegiadas e proteger integrantes do Comando Vermelho, além de financiar a compra de fuzis no Paraguai por meio de empresas fantasmas.
Por que a movimentação no imóvel foi considerada evidência de tentativa de ocultação?
As câmeras mostraram 14 pessoas removendo objetos em menos de três horas, com foco em um cofre pesado de 200 kg — algo que não seria retirado em uma mudança comum. A PF apontou que o cofre continha documentos, joias de alto valor e chaves de contas bancárias no exterior. O fato de ter ocorrido no dia seguinte à prisão, e com uso de veículo de mudança alugado, configura um padrão clássico de tentativa de apagar provas.
Quem é o "Índio do Lixão" e qual seu papel no caso?
Gabriel Dias de Oliveira, conhecido como "Índio do Lixão", é um morador da favela de Duque de Caxias apontado como o elo entre TH Joias e o Comando Vermelho. Ele comprava fuzis no Paraguai e os revendia para a facção. A PF encontrou mensagens em que ele pede a TH Joias "mais 10 AKs, como na última vez" — e ele recebeu o dinheiro por meio de transferências disfarçadas como pagamentos por joias.
O que o MDB fez após a prisão de TH Joias?
O MDB expulsou TH Joias no mesmo dia da prisão, alegando que ele "não seguia a orientação partidária". Mas o partido não apresentou investigações internas nem denunciou outros possíveis envolvidos. Isso levanta suspeitas de que outros membros poderiam ter conhecimento das atividades dele, mas optaram por ignorar — algo que a sociedade civil já pede que seja apurado.
Quais são os próximos passos do processo?
O caso foi encaminhado ao desembargador Macário Ramos Júdice Neto, do TRF2, que tem 30 dias úteis para decidir se autoriza a denúncia do Ministério Público Federal. Se aprovada, o processo segue para o juízo federal. TH Joias pode enfrentar até 30 anos de prisão se condenado por todos os crimes. A defesa dele ainda não se manifestou publicamente.
O caso tem relação com outras operações contra políticos no Rio?
Sim. Em 2023, a Operação Máfia do Cacau prendeu dois ex-deputados estaduais por desviar verbas da Alerj para financiar o CV. Em 2024, a PF descobriu que um ex-secretário de segurança do Rio usava sua posição para liberar presos da facção. Mas este é o primeiro caso em que um deputado usou sua própria fachada empresarial — joalheria — como ferramenta de lavagem e compra de armas, tornando-o um modelo perigoso de corrupção.
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