
Vale Tudo: A Novela que Virou Espelho da Sociedade Brasileira
Você sabia que uma novela dos anos 80 bateu de frente com tudo aquilo que incomodava o Brasil após a ditadura? Vale Tudo, exibida entre 1988 e 1989, não poupou ninguém: políticos corruptos, ricaços gananciosos e gente tentando dar o famoso 1jeitinho para subir na vida. Escrita por Gilberto Braga, Aguinaldo Silva e Leonor Basss, a trama escancarou o lado podre da sociedade brasileira num momento em que o país mal tinha começado a respirar ares democráticos. E quer saber? Não tem quem não lembre, nem décadas depois, da frase que ficou martelando na cabeça do público: "Vale a pena ser honesto no Brasil?"
No centro da história, Raquel Accioli (Regina Duarte) luta para reconstruir a vida após separar-se do marido e perder o pai. Ela taca coragem no peito e vai vender sanduíche na praia para tirar o sustento, mostrando que não é vergonha nenhuma batalhar com honestidade. Quem não quer saber de ralar é a filha dela, Maria de Fátima (Glória Pires). Assim que o avô morre, a moça não pensa duas vezes: vende a única casa da família em Foz do Iguaçu e cai de mala e cuia no Rio de Janeiro.
O grande choque mora na diferença de valores entre mãe e filha. Enquanto Raquel se recusa a abrir mão da ética, Fátima abraça sem dó o caminho mais curto para ficar rica. O plano? Se enroscar com César Ribeiro (Carlos Alberto Riccelli), ex-modelo e gigolô que só pensa em dinheiro fácil, e juntos armar para fisgar Afonso Roitman (Cássio Gabus Mendes), herdeiro de um império. Para complicar o jogo, entra a famigerada Odete Roitman (Beatriz Segall), a vilã que o público adorava odiar. Manipuladora e controladora, ela faz questão de casar o filho com quem acha que "vale a pena", e tenta até forçar um casamento entre a filha Heleninha (Renata Sorrah) e Ivan (Antônio Fagundes), executivo íntegro que acaba se apaixonando mesmo é pela Raquel.

Coragem, Escândalos e o Mistério Mais Famoso da TV
A coisa só esquenta mais quando Ivan e Raquel viram casal, porque Fátima e Odete farão um jogo pesado para colocar Ivan nos braços de Heleninha e afastar Raquel de vez do círculo dos ricos e influentes. O público acompanhou cada armação, cada virada, cada golpe — tudo com aquela sensação incômoda de que muita coisa ali era tão real quanto o noticiário do Jornal Nacional. E com razão: o roteiro cortou na carne ao mostrar corrupção, impunidade, desigualdade social e a dificuldade de tomar atitudes decentes em um sistema todo atravessado pelo interesse próprio.
O suspense atingiu o auge com o assassinato de Odete Roitman, verdadeira febre nacional. Era todo mundo apostando quem tinha matado a vilã — virou papo de boteco, reunião de família, sala de professores e até brincadeira de criança. Quem se entregou no fim foi Leila, encerrando o mistério sem tapar o buraco de todas as outras questões sérias levantadas ao longo dos 204 capítulos.
Vale Tudo fincou fundo o debate sobre ética, não só na ficção. Ivan e Raquel ficavam com a pulga atrás da orelha sobre o valor da honestidade, enquanto Fátima e Odete desfilavam impunemente com arrogância. O país via refletida na tela a frustração com a política, a desigualdade sem fim, o peso das aparências e o sonho de ascender de qualquer jeito como se não houvesse amanhã.
O sucesso de público foi absoluto. O último capítulo foi assistido por quase metade da população brasileira na época. Para muitos, é a novela mais marcante da TV, sempre lembrada quando surge qualquer papo sobre corrupção ou traição. Não à toa, já está no forno um remake para 2025, trazendo as mesmas discussões que nunca saíram de moda. O Brasil ainda se pergunta se, por aqui, realmente vale tudo.
Escreva um comentário